Senhor Presidente da AN, Excelência
Senhoras e Senhores Membros do Governo, Excelências,
Caros colegas Deputados:
1. Neste mês, em que assinalamos o Dia Nacional da Cultura e das Comunidades, cuja efeméride teve lugar no passado dia 18 de Outubro, sob patronato simbólico de Eugénio Tavares, homem da cultura e da diáspora, apraz-nos saudar todos os sujeitos da cultura cabo-verdiana, assim como a nossa Comunidade Emigrada espalhada pelo mundo, que vem dando um contributo indelével para o desenvolvimento de Cabo Verde, quer na divulgação e valorização da língua e da cultura cabo-verdiana; quer através da música, da dança, da literatura, do teatro, do desporto, do mundo de negócios, das artes, da investigação científica e académica e do investimento. Afinal, são eles os verdadeiros embaixadores que lutam e labutam pela afirmação da nossa identidade cultural no mundo.
2. Parece-nos, no entanto, oportuno revisitar criticamente a acção governativa deste Governo no que tange à dimensão cultural da nossa diáspora. Afinal, que politicas culturais vêm sendo materializada em prol da nossa Comunidade Emigrada?
Pouco, diríamos até quase nada! As políticas públicas direccionadas para a Diáspora não passam de enunciados sem respaldos práticos e de promessas vãs que não podem ser cumpridas. Nas várias áreas, denotamos a ausência de sensibilidade para com os emigrantes, em particular na área cultural que sempre foi o corredor privilegiado entre as ilhas e a Diáspora.
3. São cada vez mais raros os intercâmbios culturais entre os jovens descendentes, artistas e empreendedores na emigração com o Ministério da Cultura e das Indústrias Criativas, nas diferentes iniciativas realizadas em Cabo Verde. O mesmo se dirá da não existência das Casas de Cultura de Cabo Verde nos países de acolhimento, ou mesmo de adidos culturais junto às nossas embaixadas e consulados.
4. Temos a reportar o caso de Lisboa que, por duas vezes, já recebeu da Câmara Municipal de Lisboa, prédios emblemáticos para a criação de Casa de Cultura de Cabo Verde, projecto que insiste em não avançar, tamanha é a indecisão e a burocracia do Governo, quando a comunidade cabo-verdiana em Portugal tem imensos quadros capacitados, tanto em quantidade como em qualidade, para assumirem o desafio de fazer funcionar um centro cultural. O mesmo se dirá da necessidade de adidos culturais em Lisboa, Paris, Roma e Roterdão, para citar alguns pólos de elevada concentração de cabo-verdianos na Europa, nas Américas e, em África. Podendo estes fazer desdobramentos culturais por outras localidades e países. Temos também uma visão crítica em relação ao baixo entrosamento com as associações comunitárias em termos de apoio cultural, social e informativo, que podem perfeitamente prestar às comunidades formações em língua e cultura cabo-verdianas e outras informações sobre a vida em Cabo Verde, algo extremamente importante para mobilizar diferentes gerações para as causas e os desafios das ilhas.
5. Ao invés de preservar conquistas anteriores, aprofundar políticas exequíveis, garantindo a continuidade das acções reconhecidas e criar novos programas, o Governo faz tábua rasa em tudo que encontrou, actuando por vezes à revelia dos homens e mulheres da Cultura e, em particular os da nossa Diáspora. A polémica gerada em torno da Morabeza – Festa do Livro, só para citar um caso mais recente, que provocou o manifesto público do poeta José Luiz Tavares, revela claramente que não estamos num bom caminho...
6. Meus senhores, a Cultura e a Comunidade Emigrada, são dois dos principais pilares da Nação Cabo-Verdiana, pelo que apelamos ao Governo da Republica agir em prol de uma maior e melhor optimização do enorme potencial da emigração, não só para o reforço da cultura e da sua ressonância no mundo, mas também para a promoção da Economia Cabo-Verdiana.
7. É imperativo consolidar a dimensão cultural da diáspora. (...) da música à literatura, da pintura à gastronomia. Urge materializar e consolidar a Casa da Cultura nos países de acolhimento, urge implementar o projecto Museu da Diáspora! Pois, não se pode falar da Cultura e da Caboverdianidade de costas voltadas para a nossa comunidade emigrada.
Tenho dito.
Praia, 25 de Outubro 2017