Estamos cá, hoje, em mais um Debate Mensal, e, desta vez, com um tema tão pertinente, quanto desconfortável para o Primeiro-Ministro e o seu Governo.
É que o MpD, para poder vencer as eleições, fez uma Campanha à Esquerda!
E, depois, decidiu governar à Direita!
O Primeiro-Ministro que se apresentou, ao País, como sendo o “Senhor da Solução”, já se revelou, nestes 3 anos do seu mandato. E com rapidez!
Rapidamente, traduziu o discurso “O meu Partido é Cabo Verde”, pelo “O meu Partido é o meu Grupo, com quem partilho interesses”!
Velozmente, engavetou o grande Programa de Habitação - de mais de 200 milhões – que prometeu.
Aceleradamente, arquivou a atualização salarial anual para os funcionários da função pública.
Diligentemente, adiou o aumento da pensão social mínima, prometido para 7.500$00 e no prazo de 6 meses.
Antecipadamente, se esqueceu dos 45 mil empregos dignos prometidos, clamando que o emprego não cai do céu.
E, eficazmente, arquivou a taxa “0” para as micro, pequenas e médias empresas.
É caso para dizer que o Senhor Primeiro-Ministro terá sido atacado, após vencer as eleições, por algum súbito e repentino fenómeno de esquecimento, no que diz respeito às promessas que fez e aos compromissos que assumiu com os cabo-verdianos.
Caros Cabo-verdianos,
Apesar desse estranho esquecimento, temos de reconhecer o cumprimento de duas promessas que o Senhor Primeiro-Ministro assumiu com os cabo-verdianos:
a) Primeiramente, a sua promessa de governar “SEM DJOBI PA LADU”!
b) Em segundo lugar, a sua promessa convicta de que o MpD faria “DIFERENTE”, porque era “DIFERENTE!”
Infelizmente, e naquela altura, o Povo não conseguiu alcançar a dimensão de uma governação “sem djobi pa ladu”, sobretudo quando prometida por alguém que teria, nas suas mãos, a governação de um país e o destino de um Povo.
E, tristemente, o tempo tem provado que o Senhor falou a verdade, nesse caso e também quando disse que somos diferentes. De facto, o MpD é muito diferente do PAICV. O PAICV não fez tudo. Mas, o que fez de bom, fez muito melhor do que o Senhor está a fazer!
Senhor Primeiro-Ministro,
Senhores Deputados,
Nem nas suas piores projeções, o povo de Cabo Verde esperou que, em apenas três anos, o país atingisse esse nível de desnorte, de desgovernação e de desesperança.
E o nível de deceção do Povo é exatamente proporcional às expectativas que o MpD lhes criou.
Ninguém pode pretender – como o Senhor pretendeu – fazer uma Campanha com pistas á esquerda, e com curcas bruscas, á direita, sem qualquer sinalização.
Não é possível!
Mas, o Senhor acreditou que seria possível e que conseguiria ludibriar os cabo-verdianos.
E para isso, o Senhor estabeleceu um plano.
E começou por atacar a Governação anterior, naquilo que o PAICV conseguiu de melhor na sua Governação.
Primeiro atacou a credibilidade e a boa governação – levantou suspeições de tudo e mais alguma coisa, atacou o bom nome de vários antigos governantes, ordenou auditorias a instituições escolhidas a dedo, enviou processos para o Ministério Publico, mandou “fabricar” notícias e gozou de uma grande cumplicidade da televisão pública para divulgar tudo aquilo que pretendia.
Depois, atacou a área social, desmantelando os grandes programas e investimentos, que eram considerados bandeiras da governação anterior, e que foram determinantes para o combate à pobreza, para a redução das desigualdades e para a criação de oportunidades – aliás, conforme confirma o recente Relatório do Banco Mundial.
Nessa linha, atacou as Infraestruturas.
Quem não se lembra do vosso slogan de que temos “estradas sem carros, aeroportos sem aviões e portos sem barcos”?
Entretanto, e hoje, o Senhor inaugura as “estradas sem carros” que herdou, visita as obras dos “aeroportos sem aviões” que herdou, e faz bazofaria com os “portos sem barcos” que recebeu!
E tudo, simplesmente, porque o Senhor não foi capaz, ainda, de ter uma única visão que seja sua e, muito menos, avançar com nenhuma medida que seja nova.
Depois, atacou os investimentos no mundo rural e na agricultura, com destaque para as barragens.
E isso, porque o Senhor ainda não conseguiu entender que, num País como Cabo Verde, não é possível combater a pobreza e reduzir as assimetrias regionais sem garantir a mobilização de água e o acesso a serviços sociais básicos.
Depois atacou o maior Programa Social de Habitação feito em Cabo Verde, desde a Independência – CASA PARA TODOS.
Passou meses a dizer que era um mau programa e que o dinheiro tinha acabado, porque mal gerido.
Entretanto, hoje, as casas estão aí, todas construídas, para todos verem, e até já servem para ser transferidas para as Câmaras Municipais ou para serem vendidas.
Senhor Primeiro-Ministro,
Há um ditado que diz que “batuku ki ka ta maxi, ka ta comesadu!”. Ou seja, kenha ki planta batata, ka ta codji mandioca”.
A pouco e pouco, o Povo vai se dando conta de que, afinal, foi enganado por si e pelo MpD.
E, por isso mesmo, a insatisfação vai aumentando, a reivindicação vai se agudizando e as manifestações vão subindo de tom nas ruas.
O Povo, as pessoas, sentem que este é um Governo que não tem sensibilidade social e sem rosto humano!
E sentem porque têm menos acesso à saúde, têm menos acesso a água, têm menos acesso à formação e os mais carenciados não têm o necessário apoio do Estado!
As pessoas sentem que o crescimento que se propala não é inclusivo, porque não chega a elas, estando concentrado num pequeno grupo, próximo do poder.
As pessoas sentem que, caso não sigam o Partido no poder, são perseguidas, intimidadas e acantonadas no seu emprego, ou transferidas compulsivamente.
As pessoas sentem que as prioridades estão mal definidas e que o mesmo Governo que pede apoio à Comunidade Internacional para fazer face à seca, que não prioriza a habitação social, que não protege a orla marítima e que não investe no saneamento, gasta milhões em viagens e promove renúncias fiscais que não beneficiam o país.
As pessoas sentem e estão desiludidas e defraudadas!
Os camponeses estão defraudados e cada vez com mais dificuldades, porque o Governo está focado em atacar as barragens, ao invés de investir na mobilização de água.
Os funcionários estão defraudados, porque o Governo que lhes prometeu atualizações salariais anuais, está focado em colocar, nas Chefias do Estado e das Empresas Publicas, os seus Militantes.
Os jovens formados estão dececionados, porque o Governo que lhes prometeu igualdade de oportunidades, nem sequer concursos está a fazer para terem emprego, quanto mais o emprego digno que lhes foi prometido.
Caros Cabo-verdianos,
As pessoas também estão preocupadas, porque não sentem nenhum compromisso deste Governo em garantir a sustentabilidade ambiental!
Cabo Verde é um país arquipelágico, ecologicamente frágil e de parcos recursos naturais.
E os fenómenos associados ao clima reforçam ainda mais a vulnerabilidade.
Por isso mesmo, o Governo tem de poder orientar estrategicamente o aproveitamento e a exploração sustentável dos recursos naturais.
O Governo tem de:
Assegurar o acesso à água e ao saneamento;
Promover o consumo sustentável;
Avançar com um Programa Nacional de Florestação;
Alargar as Áreas protegidas, e
Ordenar o Território.
Caros Cabo-verdianos,
Estaremos cá durante 3 horas a debater, com o Chefe do Governo, questões sociais e ambientais.
Já se passaram 3 anos, desde que o Dr. Ulisses Correia e Silva foi eleito.
O País precisa que o Senhor Primeiro-Ministro pare para pensar e pense para agir.
O Pais precisa que o Senhor Primeiro-Ministro tenha uma Visão de crescimento inclusivo, defina uma estratégia de redução da pobreza, aposte na sustentabilidade ambiental e comece a implementar medidas para criar oportunidades.
Senhor Primeiro-Ministro,
Por tudo isso, queríamos perguntar-lhe:
Qual a sua visão para a redução da pobreza e das desigualdades sociais? Pensa que, apenas com propaganda política, consegue ter resultados?
Que investimentos estruturantes pretende o seu Governo fazer para reduzir o défice habitacional (qualitativo e quantitativo) no País, depois de ter desmantelado o “Casa para Todos”?
Qual a sua visão para a Agricultura e, em especial, para a mobilização de água?
Como pretende acudir os agricultores e as famílias do mundo rural, no segundo ano de seca, para que não fiquem abandonados à sua sorte?
Que medidas pretende implementar para garantir a sustentabilidade ambiental?
Esperamos, Senhor Primeiro-Ministro, que não venha nos dizer que o seu único Projeto para o País é o PRRA, que, para além do mais, o Senhor pretende executar à margem da lei, fugindo do Tribunal de Contas e sem fiscalização, num ano pré-eleitoral.
Muito obrigada!