Os Deputados do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV) acusaram hoje o Governo de abandonar o pré-escolar, citando como exemplo o jardim Gulbenkian, inoperacional devido à transferência das monitoras para a Liga Nazarena.
Em declarações à imprensa, os Deputados do Maior da Oposição pelo círculo de Santiago Sul afirmaram que esta denúncia surge na sequência de visitas que efectuaram a estabelecimentos de ensino na Praia, enquadradas no arranque do novo ano escolar.
Segundo o porta-voz, Julião Varela, o Governo disse que ia assumir o ensino pré-escolar, criando creches para as crianças para que as mães pudessem ficar disponível para trabalhar, mas o que se verifica é um “total abandono”.
“Mais de 100 crianças foram matriculadas no Jardim Gulbenkian que não funciona precisamente porque o Governo de forma atabalhoada resolveu acabar com a Fundação Cabo-verdiana de Solidariedade (FCS) e colocou em desemprego 13 monitoras. Os pais vão todos os dias levar os seus filhos, mas o jardim não funciona porque dizem que não há comida para dar as crianças”, denunciou Julião Varela.
Os Deputados do PAICV pediram ao Governo, concretamente ao primeiro-ministro, que tutelava a Fundação Cabo-verdiana de Solidariedade, para dar continuidade ao processo de extinção, tendo em conta que a Câmara Municipal da Praia “recusou-se a assumir as monitoras” recolocando-as em postos de trabalho, tal como aconteceu em outros municípios.
“É preciso resolver o problema daquelas monitoras que claramente já disseram que querem manter o seu vínculo com o Estado, colocando-lhes na situação igual a dos outros colegas que tiveram a sua situação de mobilidade feita com responsabilidade do Estado”, defendeu o Deputado.
Mas, segundo Julião Varela, há outros “problemas graves” como a “degradação de algumas escolas que colocam em causa toda a propaganda” que o “Governo fez relativamente à reabilitação de escolas”.
O Deputado criticou também a falta de professores em algumas escolas e de infra-estruturas nas salas para o ensino de novas tecnologias no ensino básico.
Outra “situação anómala”, ajuntou, relaciona-se com o pessoal das escolas básicas, “caos dos empregados de limpeza e guardas” que têm um salário “extremamente indigno” de cerca de seis contos mensais.
“Outros trabalham 12 horas e outros 24 horas por dia, portanto há necessidade de facto de o Governo, no quadro do próximo Orçamento do Estado, que está em curso, resolver esses problemas”, sugeriu Julião Varela.
O Eleito do PAICV também desafiou o Governo a dizer onde é que distribuiu os kits escolares, já que, conforme Julião Varela, nas escolas que visitaram ainda “não foi distribuído nenhum kit” e as crianças vulneráveis que tem necessidade “estão desamparadas” e a passar por uma situação “extremamente complicada.”
No jardim Gulbenkian trabalham 12 monitoras e, conforme a monitora Maria de Lourdes Pires, neste ano matricularam 120 crianças, mas receberam uma ordem por telefone, da Inclusão Social, de que “não poderiam funcionar porque não há comida para dar às crianças”.
Segundo outra monitora, Norberta Varela, que conta 31 anos de serviço, receberam uma proposta de transferência para a Liga Nazarena e “os respectivos salários seriam assumidos pela Inclusão Social num período de três anos”.
Depois passariam a receber directamente da Liga Nazarena, “dependendo do pagamento das mensalidades das crianças.”
Entretanto, o colectivo de trabalhadores recusou a proposta considerando-a “discriminatória e injusta”, já que outros monitores na mesma situação tiveram a mobilidade feita pelo Estado.
Fonte: Inforpress