O Grupo Parlamentar do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (GP-PAICV) terminou, recentemente, uma Jornada Descentralizada, de quadro dias, à Ilha do Maio.
Durante a sua permanência no Maio o Grupo Parlamentar do PAICV percorreu diversas localidades e esteve com as populações para auscultar as suas preocupações, mas sobretudo, ouviu quais são as suas expetativas.
Por isso, é com profunda estupefação e indignação que to PAICV tem vindo a ouvir, da parte, das autoridades local e central, bem como dos demais dirigentes do partido que sustenta o governo que as coisas “vão bem” e que “o Maio vive o seu melhor momento”!
Muito pelo contrário! O PAICV tem, sim, motivos, de sobra, para estar profundamente preocupado com o nível de estagnação e marasmo predominantes na ilha, após dois anos e quatro meses de governação da atual maioria.
Senão vejamos:
No setor da Agricultura não se vislumbra inovação nenhuma: nem diques de grande porte, nem tanques, nem perfurações e nem os apoios, esperados, para os agricultores e criadores de gado poderem salvar a sua produção.
A Ilha do Maio como, de resto, todo o país, tem-se ressentido de um notório descomprometimento, face às promessas de campanha, por parte dos atuais governantes.
E em virtude desses acentuados incumprimentos a situação, hoje, vivida na Ilha do Maio chega a ser periclitante e de carater emergencial, uma vez que, agudizadas pelo mau ano agrícola, decorrente da seca extrema do ano passado e que deixou as populações em situação de quase carestia, com o gado a padecer de fome e de sede.
Para já, os vales-cheques tiveram um aproveitamento em torno de 25%, ou seja, abaixo do aceitável. Cães vadios e esfomeados dizimam o gado e o desemprego campeia solto pela ilha toda, na contramão dos compromissos eleitorais assumidos.
Outrossim, a ineficácia do Programa de Mitigação da Seca e do Mau Ano Agrícola deixa no ar uma eminente possibilidade de catástrofe, não obstante a garantia dada pelo governo e pelas autoridades locais de que tudo está a ser feito para "minimizar a situação".
Neste aspeto, o anúncio feito pelo Executivo de que vai haver um aumento da bonificação do valor dos vales-cheques peca por tardia e apenas confirma que o Programa tem sido ineficiente.
A corroborar estas preocupações, bastas vezes, expendidas por mim, enquanto Deputado da Nação, eleito pelo Círculo Eleitoral do Maio, mais, recentemente, as declarações proferidas, pelo Engº Jorge Santos, Presidente da Assembleia Nacional, no mesmo diapasão, vieram demonstrar que não vale a pena a maioria parlamentar e o governo tentarem escamotear esta realidade nua e crua que se vive na Ilha.
No entanto, a Câmara Municipal do Maio, ao invés de se solidarizar com os munícipes, insiste em fazer o jogo de esconder a situação calamitosa da ilha descurando-se a exigir, do governo, a efetiva criação de postos de trabalhos, a equipar as perfurações herdadas do governo anterior, bem como, a construir mais diques e reservatórios de água.
No tocante às soluções prometidas no domínio dos transportes marítimos e aéreos ainda não se sabe nem quanto vai custar e nem quanto vão arrancar as obras do novo porto ou do Aeroporto Internacional de médio porte. Do mesmo rol de promessas constam ainda um Centro de Saúde de primeiro nível e um Parque Científico e Tecnológico da Biodiversidade, tudo remetido às calendas gregas.
Aliás, é digno e notório que todas as infraestruturas existentes, atualmente, na Ilha foram herdadas do Governo anterior seja ao nível de estradas, escolas, centros de saúde, esquadra policial, habitação social – Programa “ Casa para Todos” – sendo certo que, em dois anos e quatro meses de governação, a atual maioria não deixou, sequer, uma única marca!
Relativamente ao Poder Local, não deixa de ser, gritante a falta de estratégias de desenvolvimento e do arranque de obras estruturantes, com vista a potenciar as vantagens competitivas do Maio ao nível do turismo, isto é, turismo de sol, praia e ecológico, assim como da pesca e indústria, utilizando matérias-primas existentes na Ilha, nomeadamente, pozolana, sal, gesso, cal, carvão e pedras ornamentais.
Em tempos, um grande compositor maiense cantou e encantou a todos com a célebre canção “Maio nha terra é sabe”, na qual que um dos versos dizia: “Nha gente ca conchê nenhum maldade”.
Só que, decorridos dois anos e quatro meses da tomada de posse da atual maioria, e uma avalanche de promessas feitas sem que nada de concreto fosse efetivado, temos sérias e fundamentadas dúvidas se o supracitado verso teria lugar nesta soberba composição que retrata, de forma magistral, a simplicidade e a morabeza do povo maiense.
Por isso, terminamos dirigindo um forte apelo ao governo no sentido de assumir as suas responsabilidades e fazer o que tem que ser feito para minorar o sofrimento da população, no geral, e dos agricultores e criadores de gado da Ilha, em particular.
Assembleia Nacional, 23 Julho de 2018